O que está por trás dos processos de Coaching ? Como se planeja o processo de um profissional que deseja explorar seu potencial de desenvolvimento, fortalecer uma competência, preparar-se para um próximo passo na carreira?
O Coach, profissional que organiza e conduz o processo, considera várias ferramentas para a aplicação desse personalizado processo de desenvolvimento e quero destacar uma das ferramentas que utilizamos no “O Ponto de Equilíbrio”: O reconhecimento da história de vida do profissional, de sua biografia.
Quando, na contratação do processo, destacamos a utilização dessa ferramenta, diversas vezes nos deparamos com a pergunta por parte do cliente: “Porque esse interesse pela minha infância?”.
A resposta é quase que imediata: tudo !!! Sim, tudo que ocorre em nossas vidas tem um papel muito importante para nos tornar as pessoas que somos e serve de base para a evolução que desejamos consolidar em nossas vidas.
O processo que utilizamos leva em consideração as etapas da vida em 7 e 7 anos, os setênios, que se baseiam nos estudos do filósofo austríaco Rudolf Steiner.
Visando ampliar o entendimento da análise biográfica no processo de Coaching, destaco a seguir os aspectos presentes nos 7 primeiros setênios da vida do Homem, do seu nascimento até os 49 anos. Verifique essas etapas da vida e verifique os impactos que já foram gerados em sua vida. Veja também as demais fases da vida, dependendo de sua idade.
Quantas vezes você parou para analisar, de forma organizada, a sua biografia e as forças que nela residem?
Vamos então refletir quais são os aspectos que residem em cada etapa da nossa vida:
No primeiro setênio temos um grande desenvolvimento físico no ser humano, nascemos totalmente dependentes e com o passar dos anos, inicialmente conseguimos dar os primeiros passos, falar as primeiras palavras, dominar o nosso pensamento, adequar nossa coordenação motora, nosso corpo quase quintuplica de tamanho.
Faz parte de um desenvolvimento saudável encontrarmos nessa etapa da nossa vida um ambiente acolhedor e podemos usar como exemplo a reação que temos ao entrar numa banheira: se a água estiver fria, você se encolhe todo e só mergulha se não tiver outra alternativa. Se em sua vida esses primeiros anos não foram acolhedores, você quer se encolheu todo enquanto vivia neles e não traz lembranças tão boas.
Agora, se a água da banheira estava morna, acolhedora para aquele banho relaxante, você se expandiu todo nesse período da sua vida e traz as revigorantes energias desse mundo que se mostrou bom para você. Nesse período a vida permite que seja formado o senso moral que levamos para a vida.
O aprendizado nesse momento será pela imitação, sendo importante observar: como era seu lar e o ambiente nele ?, Quais pessoas viviam com sua família?, Que brincadeiras você realizava?, Quais imagens de seu pai e sua mãe estão guardadas neste período da sua vida?
No segundo setênio, dos 7 aos 14 anos, vivemos intensamente a vida na escola, o período de alfabetização nos traz a riqueza da leitura e as relações na escola são intensas, algumas carregamos por vários anos. Os valores que se vivem nesse período são o belo, a arte, a autoridade amada. Nesse período formamos nosso mundo interior, repleto de pensamentos, que buscam a aprovação nos novos meios que vivemos. O mundo se mostra belo para nós e com isso construímos o senso estético.
Neste período as crianças ainda precisam de hábitos, normas, costumes, que ficam presentes ao longo da vida, como o hábito de leitura, a prática de esportes, hábitos alimentares, etc. Algumas frases marcam a nossa vida e constroem valores, como: “homem não chora”, “meninas não jogam futebol com meninos”, “meninas não sobem em árvores”. Você não tem jeito, não aprende mesmo.
A aprendizagem nesse momento acontece pela identificação com uma autoridade venerada e amada, daí a importância dos professores nos primeiros anos de escola e dos pais (ou das autoridades que servem de referência para nós). Neste período a criança precisa saber o que pode e o que não pode fazer, ao viver isso na intensidade adequada o adulto ganha segurança quando chega o momento de tomar decisões na vida.
Outro movimento importante nessa etapa da vida é o ritmo dado: hora para dormir, para comer, para estudar e para brincar. Com isso promovemos um ritmo de inspiração (para dentro, para consigo mesmo) e um ritmo de expiração (para fora, para o contato com o outro). Quando adulto temos a concentração adequada para criar e a extroversão necessária para nos relacionar.
Os excessos podem gerar pessoas muito introspectivas ou pessoas muito superficiais.
No terceiro setênio, dos 14 aos 21 anos, entramos no período da puberdade, o que pode significar uma crise, vivemos em extremos, pois nasce a força do ideal que queremos construir nesse momento da vida e muitas vezes caracterizados pela oposição aos valores que os pais ditaram até esse momento. Busca se auto afirmar.
O pensamento de “Quem quero ser no mundo?” traz uma força que leva o jovem a buscar seu espaço no mundo (e dar os primeiros passos para isso). Vive-se uma crise de identidade para buscar a própria essência, com as reflexões sobre sua carreira: ser autônomo ou vinculado a uma empresa, exatas ou humanas, comunicação ou administração.
Os jovens que assumem responsabilidades maiores que as necessárias ao seu estágio de desenvolvimento sofrem consequências quando mais adultos, com potencial perda de criatividade, pois tiveram limites muito rígidos em momento da vida em que era necessário criar e experimentar mais coisas no mundo.
Nesse período se experimenta um mundo que é verdadeiro e se forma o senso crítico.
A vida apresenta algumas oportunidades para exercer liderança, como a participação em peças de teatro, a organização de festas, integrar grêmios estudantis. Ao vermos o trabalho em equipe, fica evidente um grupo que fala e ninguém se ouve, com mais características de um bando que de uma equipe.
Depois dessa fase turbulenta, entramos no 4º setênio, dos 21 aos 28 anos, com um momento da vida em que existem muitas oscilações nas emoções, que são influenciadas pelo que vivemos no ambiente externo, nas relações com as pessoas.
Começamos a viver o mundo dos adultos, nos consolidamos nos conhecimentos teóricos que construímos ou com as habilidades que são desenvolvidas para exercer a atividade profissional. Neste sentido a falta de experiência profissional nos provoca insegurança, que estimulam comportamentos agressivos que podem ser interpretados por arrogância ou prepotência.
A falta de domínio dos nossos sentimentos, nos torna “meio bestas” e há uma figura que representa esse momento da vida, que é o Centauro (figura trazida da mitologia grega, representado por ser meio homem, meio cavalo).
Necessitamos ocupar um espaço no mundo dos adultos e fazemos isso por meio do desenvolvimento das habilidades técnicas, queremos descobrir como as coisas funcionam, pois, dominar o conhecimento técnico nos dá mais segurança.
Para se colocar no mundo, o jovem nesta fase necessita: assumir uma função com responsabilidades, o que o torna competente em algo e lhe dá segurança; ter um bom gestor que possa dar-lhe feedbacks consistentes que não sejam vistos como ameaçadores; ser periodicamente avaliado, tanto para ampliar a segurança como para gerar maior “continência” às emoções por vezes descontroladas.
A resposta a ser obtida nesse período da vida é: “que lugar vou ocupar ?”
Chegamos então ao 5º setênio, dos 28 aos 35 anos. Nesta fase fortalecemos a qualidade da ponderação, onde perguntas frequentes são: “é justo?, isso faz sentido?, está adequado? Quais as consequências ao fazermos isso?”
Se no 4º setênio somos voltados à tarefa, neste momento nos pautamos pelo processo, com o desenvolvimento da conexão entre fatos, informações e processos. O profissional aplica o que aprende e passa a fortalecer paixão por modelos ou por modismos, destacando as habilidades organizativas. Com isso o profissional neste momento dá ênfase ao saber falar, saber ouvir, buscar o que está por trás das situações, dos problemas que precisa resolver profissionalmente (e na vida pessoal também).
As reflexões maduras que ocorrem nesse momento da vida se evidenciam por questões como: “o que essa situação me ensina, qual a qualidade das minhas relações pessoais, por que eu reajo de determinada maneira frente às situações?” Essas situações vividas de forma adequada permitem dar maior segurança à conquista do “meu lugar no mundo do trabalho”, o profissional é reconhecido pela competência técnica construída no setênio anterior e somado às qualidades de saber ouvir e ponderar, ganha segurança com sua maturidade profissional. Apesar desta segurança, sua condução é pautada por uma lógica de volta para fatos ou etapas do processo e essa lógica não permite enxergar a profundidade do impacto para as pessoas, sua visão racional permite administrar melhor coisas e não pessoas.
No 6º setênio, dos 35 aos 42 anos, um primeiro aspecto a considerar nesta fase da vida é que, em se vivendo harmonicamente as fases anteriores, já temos então uma segurança interior por ser reconhecido pelas habilidades profissionais e pela condução dos processos, com isso novas qualidades passam a ser reconhecidas com maior interiorização e foco no autodesenvolvimento. Ao voltar-se ao seu próprio desenvolvimento, permite que tenha condições de demonstrar maior sensibilidade às necessidades das pessoas.
Seguindo seu desenvolvimento, o profissional nessa etapa da vida passa a realizar a conexão entre pessoas e fatos, exercendo uma liderança de pessoas de forma mais abrangente, reconhecendo anseios e necessidades das pessoas e equilibra razão e intuição para tomar as decisões. Sua segurança permite que aceite ideias que sejam contrárias às suas, pois reconhece que o grupo pode ter soluções melhores que as suas.
A conhecida crise dos “40” ocorre pela proximidade da crise de autenticidade que se manifesta entre os 40 a 42 anos em média. Há um questionamento dos papéis exercidos, há uma avaliação do casamento, as obrigações que valorizávamos são questionadas e apenas nós mesmos podemos oferecer as respostas que buscamos em nossas vidas. Essas manifestações presentes em nossas vidas, se não trabalhadas equilibradamente, fazem surgir reações, podendo ser doenças gástricas ou cardíacas ou questões relacionadas ao desempenho sexual pelo receio de perder a virilidade com os sinais que o corpo começa a demonstrar. O equilíbrio está no reconhecimento da existência desses fatos e sua aceitação como parte da vida, o que nem sempre acontece pelo forte envolvimento com os aspectos que nos tiram da consciência – novas responsabilidades profissionais, os desafios da educação dos filhos e nos colocando os desafios dessa fase da vida.
No 7º setênio, dos 42 aos 49 anos, temos a manifestação de que a vida começa aos 40. Como já temos segurança suficiente, trazida pela passagem harmônica nas demais etapas da vida, passamos a dizer “não” para expectativas que as outras pessoas têm a nosso respeito, passamos a ter um nível de autenticidade que nos traz tranquilidade em dizer coisas que não dizíamos por considerar que incomodariam as pessoas. As vontades, os desejos são mais respeitados. Ficamos com pessoas que nos agradam, fazemos programas que temos interesse e não para agradar ou desagradar os que convivemos (incluindo o/a parceiro/a).
A liderança permite aproveitar o que as pessoas apresentam de melhor e fica mais evidente que há um interesse genuíno com as pessoas de sua equipe. Há maior tolerância aos erros, que são vistos como oportunidades de aprendizagem, os modismos são deixados de lado e o desenvolvimento dos seus próprios conceitos passam a apresentar maior interesse para os que vivem essa fase da vida.
Uma das preocupações passa ser o que é necessário para as pessoas, a sociedade e a comunidade de forma mais ampla, busca a transformação da organização e da comunidade e faz o bem de acordo com cada situação, fortalecendo a qualidade de construir uma visão global.
Com isso, é encarado com naturalidade que pessoas nessa idade sejam referências para tratar de alguns temas em suas organizações, pois consideram as pessoas e suas necessidades e usam sua segurança e autenticidade para explorar as questões profissionais, as questões trazidas por pares, equipe, superiores, não há receio de uma exposição.
Conexão dos setênios com o trabalho de Coaching:
Ao conhecermos as formas como as pessoas passaram por cada etapa de sua vida, fica evidente para o próprio Coachee[i] como sua vida se reflete nesses estágios da vida, permitindo chegar a conclusões por si mesmo a respeito de aspectos que acontecem em sua vida, na família, nos relacionamentos, no trabalho e em todas as dimensões.
Como o processo de Coaching tem como foco a questão de desenvolvimento trazida pelo Coachee, olhar para os aspectos que envolvem sua biografia criam um cenário em que permite aprofundar a questão principal e os resultados esperados.
Outros aspectos integram o processo de desenvolvimento, o Coaching, e podem ser esclarecidos por um contato.
Waldomiro Sesso Filho
Psicólogo com atuação em Desenvolvimento Organizacional e Humano há mais de 25 anos, é Consultor e Coach.
[i] Coachee é a pessoa que contrata os serviços de Coaching, a pessoa que se submete ao processo de Coaching.
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